JUSTIÇA PELO BRUNO
(texto escrito por Ester Machado, esposa do Bruno)
Não sei nem por onde começar esse terrível texto, mas estou aqui por mim pelo meu filho, pela família e amigos do Bruno e pra que ninguém mais sofra a dor horrível que nos estamos vivendo.
Há mais de 2 anos o Bruno começou a sentir umas dores na barriga e de imediato fomos atras, depois de exames de imagem descobrimos cálculos biliares a (pedra na vesícula). A partir dai descobrimos que não havia um tratamento, mas que a cirugia da vesícula era algo rápido e que resolveria tudo. Encaminhamos pelo ambulatório a cirurgia, iniciou todos exames e a qualquer momento seria "chamado" pra cirurgia. Lembrando que nunca nos foi mencionado que algo mais grave alem das crises de dores poderia acontecer.
Dia 22 de dezembro do ano passado depois de ja ter tido algumas crises de dor ir na upa ser medicado e mandado pra casa veio o resultado do exame Pancreatite leve, uma das pedras se deslocou e obstruiu o canal por onde sai enzimas do pâncreas e causou uma inflamação na região, o Bruno internou no hospital no mesmo dia 22, e fez antibiótico na veia ate o dia 24. Como todos sabem o Bruno tem um filho que é autista e tinha apenas 3 anos sentindo muita falta dele em casa, e eu creio que todos que internam no hospital tem a mesma vontade sair o quanto antes de lá, ele chamou o dr Gabriel que estava no plantão e pediu se possível ele terminar o tratamento de casa pois estava com muita saudade do filho. O medico na minha frente e do Bruno nos disse que liberaria o Bruno pra ir pra casa e nos instruiu a ir no ambulatório e pedir a cirurgia com mais urgência, sem mencionar em nenhum momento que tinha esta GRAVIDADE! Deram a alta dia 24 a tardinha dia 25 foi natal e dia 26 o Bruno voltou pro ambulatório.
Desde dezembro o Bruno teve mais crises, com muita dor, foi pra upa, refazia os exames, era medicado e liberavam sem a cirurgia de urgência.
Quando foi dia 20 de fevereiro o Bruno não aguentava de dor, almoçamos e fomos pro hospital, passamos la ate as 20:00 da noite, ele fez eco, exames laboratoriais e a resposta da boca do medico foi "o Bruno tem cálculos biliares e uma inflamação crônica na vesícula, precisa com urgência da cirurgia" eu imaginei que naquele momento ele faria a internação e pediria pro cirurgião vir ja avaliar, mas não no corredor no ps ele nos disse que estávamos liberados deu dipirona e tramadol pra dor e pediu pro Bruno aguardar o ambulatório chamar.
No dia 21 na sexta a dor voltou, e ali eu vi que não poderia ser só a vesícula, e pensamos pode ser uma nova crise leve de pancreatite, passou ate as 03:00 da manhã na upa na medicação e observação, refez todos os exames e mais uma vez foi liberado. Até que no dia 22 no sábado depois de ter chegado as 03:00 da manhã saiu as 07:00 sem nem me avisar dizendo "amor eu não aguento de dor" saiu correndo sem se quer me esperar, desesperado de dor abdominal. Sai de uber logo após dele e quando cheguei me deparei com ele pálido, todo molhado de suor, e urrando de dor, depois de ja ter feito de 3 doses de morfina isso em poucas horas. Refizeram os exames e chamaram o cirurgião Pedro, que chegou pra examina-lo que em desespero disse dr por favor me opera eu não aguento esta dor e a primeira resposta foi "hoje é sábado péssimo pra isso, eu ia ter que te abrir então espera nó antibiótico e depois nos vemos pra fazer a de video". O Bruno seguiu implorando e falando pode ser de corte eu só quero que essa dor passe. Depois disso resumidamente ele passou o dia tomando morfina e tramadol, deitado no ps. Ate que veio o resultado de uma nova pancreatite, que ja poderia ter sigo evitada. Fizeram a internação, e eu pensei vai ser igual dezembro mas dessa vez vão operar e semana que vem ele esta bem em casa. Mas dai começou o nosso sofrimento, no domingo encaminharam o Bruno pra uti, e a resposta do medico foi, o caso do Bruno não é grave, ele só vai pra uti pra ser assistido melhor porque ele teve febre no ps e não viram por causa dos acidentes e hospital lotado.
O Bruno ficou do dia 23 até o dia 01 de março na uti de camaquã. Ate que eles nos disseram que o caso do Bruno era grave e que nós precisávamos ficar ciente dos riscos, nos tentamos contato com diretor do hospital, com dr Thiago Bonilha que nos via todos os dias na fila da uti, e só o que nos era dito da boca dos medicos é que tudo que o Bruno precisava no momento tinha aqui.
O Bruno com pancreatite estava recebendo alimentação, e só Deus sabe a culpa que eu sinto porque pra nos era passado que ele precisava comer pra melhorar e ele me dizia que estava com dor que não tinha fome e eu dizia come pelo nosso filho pra ti voltar logo pra nos. É tanta injustiça e despreparo que eu não consigo não chorar e me abater escrevendo cada palavra.
O Bruno dizia que tinha feito xixi, mas não muito porque foi cortado de novo a alimentação não podia nem tomar agua, e então iniciaram à hemodiálise precoce porque o rim tinha parado, mas sempre nos lembrando que tudo o que ele precisava tinha aqui e que os exames ja estavam apresentando melhora. Em todos os dias que ele esteve ali perguntávamos ele não precisa ser transferido pra um hospital com mais recursos pro caso dele e a resposta era que quando fosse preciso mandariam mas que ele estava "melhorando".
Ate o dia em que nos chegamos eu e o chiquinho e o dr Diego, de estrema empatia nos informou do caso e nos alertou sobre os riscos, voltamos com tudo que ele falou na cabeça e corremos atras pra transferência pra porto alegre. Graças a atenção da Fabia, junto com a empatia do Dr Diego, conseguimos a transferência pro hospital Don Vicente Sherer do Santa Casa. Na partida com a uti movel daqui pra la ja começamos não conseguindo laudo da tomo com hospital que acabou mandando somente o cd. Ali eu sentia que poderia ter algo a mais.
Quando chegamos no hospital de porto foi que nos tivemos noção do tamanho do estrago que a doença junto com a negligência do hospital de Camaquã tinha causado.
No primeiro dia no Don Vicente Shcerer eles nos chamaram, e com todo carinho e empatia nos disseram, o caso do Bruno era gravíssimo e ele poderia vir a óbito a qualquer momento, ele foi sedado e entubado, tinha varias complicações, e a inflamação do pâncreas ja tinha causado uma inflamação gigantesca em todo o corpo dele, porque o que aqui em Camaquã eles diziam que estava controlado e melhorando la nos descobrimos que o pâncreas ja estava 100% necrosado.
Ali começou uma luta gigantesca, os médicos fazendo sempre a nós a mesma pergunta porque deixaram o Bruno, um menino, saudável, sem nenhum outro problema chegar nesse quadro tão grave e talvez irreparável como de fato foi. Até o dia em que um dos médicos junto do psicólogo do hospital deu a noticia pra mim e pra mãe do Bruno, de que o que tinham feito com o Bruno aqui, era uma crueldade sem tamanho, em uma reunião com os melhores médicos de porto alegre, eles discutiram, e nos informaram depois que o Bruno só estava daquele jeito naquele momento por falta de uma cirurgia de 25 min que atualmente é uma das coisas mais simples na medicina, e que agora não daria mais tempo de fazer nada. Ainda sim o Bruno aguentou, como um guerreiro, dias e dias, e nós na esperança de salvarmos ele, até que chegou o momento que nunca imaginávamos passar, o dia que nos chamaram pra se despedir e nos falaram que eles lutaram com todas as forças, que o Bruno foi e é um guerreiro, mas que infelizmente ele não resistiria. Eu estive do lado dele até o coração dele parar de bater, e quando eu me dei por conta eu senti tanta dor, misturada de tanta raiva e indignação.
O Bruno não era vingativo e em nenhum momento é ou foi essa a minha vontade, mas eu quero justiça. Justiça por uma vida, que foi perdida por negligência medica. Ficam as minhas perguntas: porque não transferiram pra porto alegre antes? Porque não retiraram a vesícula em todos os dias que ele foi pedir ajuda com dor? Porque o dr Gabriel deixou ele ser liberado sabendo do que poderia acontecer a qualquer momento de novo? Porque a Dra Luana olhou nos meus olhos na frente do chiquinho e da minha sogra que são testemunhas e disse sorrindo que os exames estavam apresentando melhora e ele ia pro quarto? Porque deram comida pra ele com uma pancreatite grave? São tantas perguntas e a resposta é a mesma. CRUELDADE, DESPREPARO E NEGLIGÊNCIA.
Grupo de Whatsapp 'Justica pelo Bruno': https://chat.whatsapp.com/ImhXahNDjff6ywgdMuhDbq